quarta-feira, 29 de outubro de 2008

PT e seus 28 anos. Escrito em Fevereiro de 2008

Caros amigos e amigas, reescrevo este texto que escrevi em fevereiro de 2008, em alusão ao aniversário do PT, onde tentei chamar a atenção para as eleições que viriam, bem como para o fortalecimento desta ferramenta! Coloco aqui novamente para que comparemos ao próximo artigo que estou escrevendo sobre as eleições em Pelotas e RS, que estarei colocando na sequência para apreciação.

Contribuição ao Debate
Por: Nelson Pires - Nelsinho do PT - 28/02/2008
Prezados companheiros (as),

Apresento aqui um texto que tenta fazer e/ou trazer uma reflexão sobre nosso partido, a partir de uma reflexão do ponto de vista militante.Os militantes são estes que, na história do PT, sempre ficaram à margem de qualquer instância. Cabe salientar que não se trata de uma avaliação do PT em governos, mas do próprio partido, embora o que trago aqui poderá refletir (e já refletiu) em futuros governos, como veremos durante a leitura.
Perdoem-me nossos teóricos e intelectuais ou nossos formadores políticos e governantes. Este texto sistematiza, ou pelo menos tenta fazer a discussão político-partidária, seja de partido, seja de tendências, de uma ótica diferente daquelas que costumeiramente vemos em nossas teses, congressos ou encontros. Embora reconheçamos a importância destes encontros, não conseguimos fazer atingir a maioria, o que nos leva a acreditar que essa metodologia precisa ser revista.
Este texto também visa chamar a atenção do PT para voltar a apaixonar as pessoas, militantes, os negros, os brancos, os velhos, os novos e, principalmente, a juventude. Tentarei esboçar o olhar de um PT de quem “vive de fora” e, com isso, romper a barreira que não ultrapassa a mera discussão e veta a oxigenação de nosso partido.
Outrossim, reitero a grande mudança que nosso partido propiciou, ao longo de seus 28 anos, às pessoas e suas respectivas famílias, seja em nível municipal, estadual e, agora, o que o Brasil e seu povo pode presenciar o que o PT pode lhes proporcionar estando no governo.
Boa leitura!
Nelson Pires (Nelsinho do PT)
Secretário de Organização do PT - Pelotas



Há muito, vemos alguns dos nossos representantes fazerem disputa política de modo antropofágico, sem nenhum compromisso real para com o partido, bem como com sua militância, sua maior riqueza (reconhecida em todas as correntes e por todos os quadros). Esses debates só servem para medir força entre as respectivas tendências que, embora tenha sido uma vitória do ponto de vista histórico e democrático, no V Encontro Nacional do PT, em dezembro de 1987, onde houve a implantação da resolução que previa o direito de tendências internas. Mas parece que, por épocas, estas danificam a estrutura partidária e impede a criação de novas lideranças, a inserção de novos filiados, bem como a unificação do partido em se apresentar como alternativa às políticas neoliberais implantadas em nosso país principalmente, pelo PSDB e DEM, que fazem a população brasileira padecerem a décadas.
Não estou aqui dizendo que desde sua formação, em 1980, o PT com suas tendências, pequenos agrupamentos como o PRC, militantes sindicais, populares, da igreja e da intelectualidade, entre outros, não evoluiu em sua capacidade democrática e singular de ser referência a partidos de esquerda, bem como segmentos de esquerda até mesmo para o exterior. Mas também é verdade que esta referência teve dificuldades pra se manter, por conta de inúmeros problemas vindos, através do PT, quando das primeiras cadeiras no legislativo, senado e executivo, pois começaram aí os equívocos de onde é o partido e onde é o gabinete ou de quem dirige e quem é dirigido e assim sucessivamente, fazendo com que muitos companheiros e companheiras começassem a sair de nossa estrutura. E não estou falando de pessoas que saíram porque viram que o PT não lhes daria lucro ou porque as políticas implantadas por seus governos, principalmente no nosso governo Lula, lhes “afetara o bolso”, como o caso da Heloísa Helena, mas companheiros que, como digo, “pagavam para militar”, deixando de lado suas famílias e abdicando de seus projetos para contribuir com o PT e desistiram e, se não mudarmos um pouco nossa postura, continuarão a desistir de discutir política, pelo menos no que se refere à política partidária. Embora, para poucos, isso sirva. Mas não podemos permitir que uma minoria que defende um “PT mínimo” e sem o devido foco que deve ter um partido de esquerda como o nosso, consiga fazer parecer que o PT não é e não será mais o mesmo. Pois assim estaríamos deixando o caminho livre para aqueles que querem ver nosso colegiado servindo apenas de “sigla de aluguel” (para eles mesmos) ou de “residência para alguns iluminados”, que se julgam serem os únicos que podem “dar a linha ao partido”.
Não é no retrocesso dentro PT que aposto, a não ser que este quadro não mude, até porque é notório que nosso partido sempre foi tido como referência a muita gente. Mas o que deve nos preocupar e deveremos evitar é o que chamo de “sedentarismo político”, haja vista que nosso partido, em seus encontros, congressos ou qualquer outro debate, tira medidas um tanto quanto inócuas que, na maioria das vezes, servem apenas para reescrever algumas páginas por nós já escritas que contêm as mesmas teses, com outras palavras ou óticas diferentes.
Por vezes, parece que nosso partido dá voltas sem chegar a um objetivo concreto que nos garanta o crescimento esperado. É como se chegasse a um governo sem saber como governar! Parece que fazemos nossos encontros servirem apenas para aparecer na mídia e dizer que o PT está mobilizado. Isso não é o bastante e todo mundo sabe, mas o que fazer? Penso que talvez devêssemos refletir sobre nosso partido, sob pena de fazermos nossos encontros, nossos quadros e políticas se tornarem, como de um PMDB que sempre diz que é o partido que “tem mais filiados”, mas ostenta suas eleições com muito pouco de seus militantes votando que, inclusive, por vezes, nem sabem que estão filiados. Ou pior ainda, podemos estar nos tornando um “partido velho” como é o exemplo típico da última eleição para senador, onde o PMDB teve que continuar com o Simon porque não elegeria mais ninguém que não ele. É urgente que nos preocupemos com este debate, pois assim como o partido de Simon, poderemos nos deparar com nossos quadros públicos se tornando velhos demais e com a possibilidade de não deixar “uma herança” aos novos, assim como os discursos e políticas por eles implantadas estarem se tornando obsoletos.
O QUE FAZER PARA ROMPER O SEDENTARISMO POLÍTICO?

Embora tenha havido conquistas de enorme relevância à nossa democracia interna, nosso partido não consegue manter numa crescente a política que visa a permanência da militância em nossa agremiação. Como foi tirado na resolução do DN, que ocorreu no dia 09 de fevereiro de 2008 ...”isso é indissociável da defesa da democracia partidária e dos seus valores socialistas. A democracia no PT deve ser acessível e praticada por centenas de milhares de filiados/as de modo freqüente, de forma ativa e voluntária. Ela não pode significar apenas comparecimento para votar e tampouco pode ser apenas um modo de repartição interna dos cargos de direção. A democracia interna dá viabilidade ao nosso partido e deve ser defendida. Ela deve ser uma prática permanente, deve significar um conjunto de compromissos socialistas de construção partidária e deve impor barreiras e impedimentos a práticas burguesas em nosso meio.” É importante lermos isso, praticar, e que bom que os membros do DN com sua pluralidade de opiniões expostas a partir de reflexões (suponho) internas de seus respectivos grupos políticos exercitem essa prática. E torço para que consigamos concretizar essa medida, assim como nos preocuparmos para que não seja“mais uma ‘tese’ escrita”.
Mesmo com o processo de expansão democrática no PT, como a decisão de eleger as direções partidárias em todos os níveis por meio do Processo de Eleições Diretas (PED), no qual todos os militantes filiados e em dia com o partido definem os rumos e dirigentes do partido, o PT ainda não consegue trazer à militância um lugar aconchegante para fazer debates, simpósios, congressos, reuniões do seu dia a dia, etc., como fazia antigamente.
O PT precisa rediscutir sua maneira de fazer políticas que visem atrair a atenção da militância que ficam à margem das instâncias partidárias, isto é, militantes que usam seu tempo para fazer políticas sindicais, estudantis, de igreja, etc. Mesmo que não seja para nenhuma dessas atividades descritas, é importante termos um PT que sirva para dar opções às pessoas, às entidades, procurar filiados em potencial e uma infinidade de oportunidades que o partido teria; fazer com que se sintam à vontade para estar discutindo suas pautas e de seus segmentos dentro das sedes, assim como poder contar com opiniões de suas setoriais relacionadas com o tema. Aliás, como já falei anteriormente, como qualquer outra instância, setoriais essas que funcionem efetivamente, senão ficam só “no papel” e sem atividade, seja por falta de quadros qualificados, seja pela mera ocupação de espaços.
A oxigenação do PT, acredito, dar-se-á a partir da aposta em novos quadros, que direcione este instrumento fundamental à transformação social e ao combate às desigualdades enfrentadas por milhares de militantes petistas ou por simpatizantes que ainda vêem no PT uma aposta para a resolução de problemas de seu cotidiano, como por exemplo, acesso à educação, à saúde, ao trabalho, etc,. As pessoas com deficiências físicas, auditivas, visuais ou mentais procuram soluções de problemas que, para nós, “normais” seriam coisas fúteis. Estas pessoas querem um PT que debata suas demandas, assim como busque alternativa, promova discussões e que sirva de aprendizado para o colegiado e segmentos sociais e não só quando se está em governos e que precisa dar respostas rápidas ao clamor do povo. Fiz referência especial a esta classe de cidadãos apenas para ilustrar, pois para qualquer classe devemos nos dispor ao auxílio. É importante lembrar aqui que este texto serve de reflexão para os dirigentes partidários e seus militantes que não fazem parte de governos, e no caso de fazerem, que leiam com olhos de militantes/dirigentes, sob pena de não estarmos reconhecendo os inúmeros avanços que nosso partido vem conquistando nos níveis municipal, estadual e, principalmente, do que vem ocorrendo nos dois governos do Presidente Lula, com sua política afirmativa em todos os setores da sociedade, mas principalmente nas áreas da educação, saúde, desenvolvimento econômico e agora, com mais abrangência, no âmbito nacional com as políticas do PAC.
Dito isso e feito o registro, retomemos o debate do ponto de vista partidário, para que o PT volte a apaixonar as pessoas de todas as idades. O PT precisa se deixar ouvir por aquelas pessoas que o (re) constrói a cada dia que passa. São pessoas que não vemos nos diretórios, nas executivas, ou em qualquer outra setorial de nosso partido. Muito pelo contrário, se quisermos ver essas pessoas, devemos sair às ruas, não em épocas de eleições, mas em “dias normais” de todos nós. E por que não irmos às feiras livres, postos de saúde, lojas, campos de futebol amador, supermercados, pronto-socorros, embaixo de pontes, viadutos, e em outros tantos lugares que nosso partido, assim como nós partidários, só chegamos (e se chegamos) em eleições? Se fizermos isso, perceberemos o quanto o nosso partido tem a ver com essas pessoas, como elas podem contribuir para nossa (re) organização e (re) formulação de nosso projeto. Nesses lugares encontraremos com toda a certeza pessoas que nos defendem de uma maneira tão veemente que acharemos que “faz parte de uma tendência” do PT, ou tem algum cargo remunerado ou algum parente! Aí nós veremos que não é nada disso. São apenas pessoas que, de um modo empírico, ainda que, por vezes, não saibam nem o significado da palavra, sentiram as mudanças que o PT pôde lhes proporcionar. Também encontraremos pessoas de censo crítico acentuado e posicionamento firme no que acredita, que poderemos pensar “esse aí é de direita” ou “esse é plantado aí”, como pensamos seguidamente, quando na verdade são pessoas que não entendem nada de vivência partidária, encontros, congressos, etc,. Porém não são alienadas política e intelectualmente e querem ver as mudanças e, talvez, querem que sejamos nós os agentes destas mudanças e destes seus anseios; se prestarmos atenção às suas críticas, poderemos mudar a vida de muitos, assim como nossos conceitos. E isso não trata de darmos alguma coisa a essas pessoas, mas simplesmente acompanhá-las, buscando formas para acharem caminhos mais curtos e mais objetivos aos seus questionamentos. Cito um exemplo, que pode servir para o partido e para alguns gabinetes: é como se tivéssemos uma coordenadoria para auxiliar as pessoas em seu próprio local de moradia. Ou seja, as pessoas tendem a dimensionar demais seus problemas, e isso é agravado pelo fato de serem por demais leigas e com isso ficam irritadas, bravas, etc, além de saberem que sempre foi tremenda a ineficiência do estado no trato de temas como saúde, educação, saneamento, economia, enfim. Mas se tivermos alguma estrutura (seja gabinetes, seja DM) que as indiquem diretamente ao destino de suas preocupações, as coisas não só se resolverão de forma mais eficaz, como estaremos ensinando as pessoas a procurarem soluções, conhecimentos para tudo isso, formando uma “central humana de informação”, pois pessoas que tiverem o mesmo problema, já saberão orientar-se entre si. Embora possa parecer besteira, faz muita diferença no cotidiano deles, assim como podem me dizer que existem os órgãos competentes para isso. Concordo! Mas se isso é errado ou politicamente incorreto, por que então vemos gabinetes fazendo isso? Vê-se, por exemplo, assessores ou parlamentares que resolvem os problemas das pessoas sem que as ensinem, fazendo com que se tornem “reféns” deles em uma visão paternalista e populista que deveríamos combater. É como diz o Lula, não basta dar-lhes o peixe, é preciso ensiná-los a pescar!
Para que isso seja possível, é preciso que saiamos um pouco de nossas “tendências”, de nossos “guetos políticos”, de nossos gabinetes que, em muitos casos, apontamos mudanças para uma determinada classe da sociedade sem que conheçamos a sua vida diária e seus sonhos e, principalmente, suas necessidades. É preciso dizer que o PT não é a caixa mágica para eles tirarem as soluções para todos os seus problemas, mas é – com certeza – o instrumento ideal para alcançar suas conquistas. Mas, reiteradamente afirmo, só será possível alcançarmos o sucesso desejado se propusermos um PT aberto, que sirva de canal e seja atraente às pessoas! Mas tudo isso deve ser feito com trabalho árduo e não podemos dizer às pessoas somente o que está em nossos discursos. Precisamos, por óbvio, praticar o que dissemos, isto é, devemos pegar nosso discurso e pomos em prática!
COMO MUDAR NOSSAS INSTÂNCIAS PARTIDÁRIAS?
Quando sugiro mudar nossas instâncias partidárias, não me refiro à troca de dirigentes. Mas a troca na postura com que o partido, através de suas direções, tem em relação com o funcionamento do partido e para com sua militância de um modo geral, assim como no trato com simpatizantes.É preciso que façamos uma digressão ao nosso modo de atrair as pessoas, visando fazer com que se sintam à vontade e queiram, além de convidar mais pessoas, permanecer nas sedes apropriando-se do partido e suas políticas. O que vemos hoje na estrutura do PT, e assumo a meia culpa, é a briga interna em todos os níveis da minoria contra a maioria ou vice-versa. Isto é, troca direção e continuamos sempre com a linha não propositiva do PT. Outra coisa que tem que mudar no PT, principalmente nos municípios, é a forma de comandar o partido. No PT nacional já é prática e este ano implantaram em nível estadual, que é a “profissionalização” da executiva. Não entro no mérito de ser contra ou a favor, mas em não sendo assim, o Partido dos Trabalhadores jamais será comandado por trabalhador. Quantos presidentes do PT e membros de suas executivas, por exemplo, conhecemos que trabalham na iniciativa privada e dirijam nosso partido? Particularmente não conheço nenhum. Em um partido como o nosso, nós vemos na direção pessoas que têm cargo eletivo ou exercem assessoria parlamentar e isso não é uma crítica contra essas pessoas, é só para chamar atenção que trabalhador comum é impedido de dirigir o PT. Nesse sentido o PT é excludente, pois muitas vezes a executiva é chamada em horários totalmente impossíveis de um trabalhador “normal” participar. Por exemplo: toca nosso telefone ou chega mensagem às 10h para chamar reunião às 13h. O seu patrão permitiria sua saída? Óbvio que não! Então isso se torna inviável para propiciar às pessoas que vivem à margem do partido tentar contribuir nesta direção. O que lhes resta é ser só dirigido. Mas até quando o PT terá essas pessoas que só podem ser comandadas e não comandantes? Também não estou abstraindo aqui o fato de a política ser dinâmica, minha intenção é propor um debate e reflexão de como mudar nossa política interna no que diz respeito à nossa democratização. Bem, se para isso é preciso profissionalizar a executiva, então que seja. Se é preciso rever a metodologia das reuniões e seus horários que seja feito. O que não dá mais é deixarmos passar “despercebidos” esses problemas que engessam a nossa estrutura.
QUANTO AO ANTROFAGISMO:
Embora o termo pareça ser muito forte ou sem sentido, e o coloquei de preâmbulo propositalmente, mas perdoem-me, foi o mais adequado que achei para compor este raciocino. O antropofagismo de que falo muitos de nós vivencia ou vivenciou em suas respectivas tendências e, se não nessas, com certeza viveu no PT. Caros companheiros, entendo sua perplexidade diante do exposto, embora saibamos que se trata da mais pura verdade. Para podermos visualizar melhor o que eu digo, cito alguns episódios que aconteceram e, se não mudarmos nosso comportamento, continuarão acontecendo. Por ordem cronológica, pegamos os nossos PED's que a cada processo é uma guerra de quem “mete mais votos” e, para isso não medem esforços, seja com tentativas de impugnações, agressões ou quem tem mais estrutura para “carregar” os “militantes”.
Para ser sincero, não sou contra carregar militantes para ir votar, desde que estes saibam o real motivo do significado PED e o que suas teses e tendências defendem, pois assim sendo, independe delas irem sós, de avião ou de carona, irão ciente do que fazerem, pois não são eleitores comuns, são agentes políticos. É, mas infelizmente não ocorre isso, sou capaz de apostar que 80% dos votantes destes últimos processos que tenho acompanhado sequer leram as teses, sem exagero.
Outro fator que retrata, além de provar o termo antropofagismo, foi a experiência do nosso primeiro governo no estado, o governo Olívio Dutra. Sem atribuir a culpa a “A” ou “B”, e sim a nós dirigentes, essas brigas acabaram por ter, segundo alguns, eleito um governo de poucos ou de algumas correntes, alijando outros quadros e tendências da única experiência, bem como o único governo do PT até hoje em nível estadual. Por conta disso, outros que se sentiram injustiçados, independente de terem sido ou não, é como eu citei anteriormente, não trato de méritos aqui e sim métodos. Apesar de que se pesarmos essas posturas veremos, ao que me parece, deméritos. Mas voltemos à linha de raciocínio destes, aos quais me incluo, que resolveram “dar o troco” e quatro anos mais tarde entraram nas prévias indicando o companheiro Tarso Genro para disputar as prévias com o Olívio. Então temos dois grandes companheiros disputando nas prévias o que poderia ter sido sanado na composição do governo, que era do PT e não de alguns. Ou, ainda, poderia nem ter sido preciso isso se o PT fosse mais estruturado à época. Independente de ter sido este fator ou não o que levou o partido dos trabalhadores à derrota, com certeza foi mais um tijolo na desmobilização e fragmentação do PT, haja vista que pós prévias e na campanha que viria muitos companheiros preferiram cruzar os braços a fazer campanha para o Tarso e, subseqüentemente, choraram juntos a derrota de todos. Sim, mesmo que achem que quando ganhamos uma eleição o governo será de poucos, nossas derrotas são de todos.
Alguns episódios considero pormenores, porém não menos graves, como por exemplo companheiros que entram na justiça contra uma deliberação do partido ou outros que, ao entrarem num governo, corrompem-se; um caso recente, oriundo do último PED que, como alguns reclamam, houve o não cumprimento da proporcionalidade nas instâncias partidárias.
Meus caros, se isso é novidade que viria acontecer, me perdoem de chamá-los de puristas, pois essa “não-democracia”, se assim podemos dizer, acontecera antes, em governos, tendências, bancadas, etc.; para acontecer na executiva era uma questão de tempo e não deve haver esperneio por isso. Não conseguiremos resolver essa e outras questões com discussões superficiais, temos que fazer um debate com radicalidade, no sentido de acharmos o cerne dos problemas. Em nível estadual, reclamam da exclusão na estadual, tendo praticado o mesmo processo nos municípios. Logo, concluo a superficialidade do debate, isto é, se me convém eu discuto, se não eu me afasto!
QUAIS OS RUMOS PARA RESGATAR O PT?
Como tenho dito desde o começo, esse texto não pretende ser, e portanto não é, um almanaque político ou mesmo um manual de como se montar um partido ou ser um bom político. Tampouco é minha pretensão querer ensinar militantes históricos, assim como fundadores de nosso partido, a dirigir o PT. Minha intenção é dizer sobre o que vejo de errado e propor aos companheiros um debate e uma reflexão profunda sobre a questão. Mas uma vez um companheiro me disse que em seu tempo de universitário, ao concorrer ao D.A., elegeram o nome de sua chapa de “Um D.A. sem hímem. Pois queriam um diretório acadêmico aberto aos alunos da universidade e não um monopólio de alguns estudantes. Por isso pode até parecer um termo impróprio para o PT ou para a maioria de nossos quadros, acostumados com termos mais adequados e técnicos. Mas é com essa frase que quero encaminhar o final desta minha breve contribuição.
É isso mesmo que espero do PT para daqui há 20, 30...100 anos. Um PT aberto, propositivo, aguerrido, sem os vícios da institucionalidade, acolhedor, comprometido com a igualdade social, de esquerda, e com firmeza nos preceitos que o fez surgir. Quero um PT que acolha os negros, os brancos, os pardos, os índios, as mulheres, os GLBT's, os idosos e, principalmente, da qual sou oriundo, a juventude, que é a única capaz de reacender a paixão do PT.
Quero um PT combativo aos seus inimigos políticos, um PT que proteja a maioria, que instigue a produção de textos de reflexão, não só em épocas de PED, mas que propicie formação acima de tudo. E o que desejo ao PT estende-se às tendências, que considero uma riqueza de nosso partido, mas que sirva essa adversidade para o seu crescimento e, não à destruição deste mecanismo que o Brasil identificou como organizador e protagonista de uma sociedade mais justa e igual para todos. Quero um PT que permita sempre estar com sua sede à disposição delas.
Por fim, quero um PT com a sua cara original, com gás, com força, com união. Um PT que saiba ser o PT até quando está no governo, sem que isso venha a prejudicar a disputa com os demais partidos. Quero um PT de luta, de garra, de sonhos e de realizações. Um PT que prima pela unidade contínua e não momentânea, que encha sua sede de filiados conscientes em saber porque estão ali e não como vemos seguidamente, pessoas com carteirinha na mão em época de PED sem saber o real sentido do processo; pessoas que servem de massa de manobra apenas. Quero um PT que condene todas estas práticas por nós combatidas quando advindas dos outros partidos. Quero um PT humano, que compreenda o diferente, que acalente os iguais, acalme os eufóricos. Um PT que construa consenso e não o imponha, um PT que até na divisão possa somar.
Portanto, companheiros e companheiras, eu quero nada mais nada menos do que o PT que conhecemos quando nasceu há 28 anos. Um PT que motivou o Brasil a lutar por seus direitos como por exemplo o vanguardismo das diretas já. Quero o meu, o nosso PT, com o “Mar Vermelho” nas ruas. Mas de militantes e não de diaristas, que ganham para tremular, ERRADAMENTE, as bandeiras. Pois até neste simples gesto percebemos a diferença entre o balançar das bandeiras de um militante e um “empregado”, pois a uniformidade entre o corpo, o rosto e a bandeira de quem é militante é inconfundível, é apaixonante.
Caros companheiros (as), este texto, como bem notaram, não tem o caráter reformulador, ou seja, ele não nos traz soluções nem é, tampouco, uma cartilha de como devemos ser ou agir. Ele traz reflexões para os fundadores poderem comparar o antes e o depois e idéias para os mais novos que, assim como eu, querem ver o PT que ouvimos contar. Pois, se conseguirmos trazer este PT de volta, não será de outra maneira senão pela velha e boa prática do diálogo, da disputa de opinião, de bater de porta em porta, não só em eleições, mas sempre que der, para apresentar o PT às pessoas. Não quero aqui esquecer o papel da mídia e das ricas campanhas que fazem chegar um panfleto a cada habitante. Um “canhão” diário que atinge centenas de milhares de pessoas que é a televisão. Mas isso só não basta para trazer o PT de volta, pelo contrário, nos prende mais ainda do poder econômico e nos afasta de vez do militante em potencial!
PT, MEUS SONHOS AINDA ESTÃO REFLETIDOS EM SUA BANDEIRA!

Nelsinho do PT : nelsinhodopt@pop.com.br


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