segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Porquê votar em Dilma.

Caros amigos e amigas, o meu apoio a Dilma, assim como a maioria dos brasileiros, não é só porque é Dilma e/ou porque Lula a indicou e pronto. Vai muito além do simples gostar ou militar. Há muita coisa em jogo que o povo não quer perder, pois aprendeu que é seu e ninguém pode tirar sem que outorgamos. Por isso, acho que o texto deste tão renomado Filósofo, diz tudo o que o povo quer dizer a essa direita opositora e facista tenta encobrir. Mas de nada adiantará os ataques fervorosos de Serra e de sua grande mídia que tenta aterrorizar a população para, pelo menos, chegar ao 2° turno. Coisa que o povo não está com vontade de ceder. Admira-me que, desta vez, os apoiadores de Serra não colocar seus ícones, como a REGINA DUARTE, a demonstrar seu "medo" nos programas eleitorais!

Boa Leitura!
Para consolidar uma ruptura histórica
Por: Leonardo Boff – teólogo, filósofo e escritor.
Leonardo Boff – teólogo, filósofo e escritor

Para mim o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que
Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa
comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da
cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato,
Capistrano de Abreu, “capado e recapado, sangrado e ressangrado”. Elas
estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de
tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguardados. Por
isso, segundo dados do Banco Mundial, são aquelas que,
proporcionalmente, mais acumulam no mundo e se contam, política e
socialmente, entre as mais atrasadas e insensíveis. São vinte mil
famílias que, mais ou menos, controlam 46% de toda a riqueza nacional,
sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que
estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale
dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.
Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa grande e a senzala
constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa
grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites
fora construída com seu trabalho superexplorado, com seu sangue e suas
vidas, feitas carvão no processo produtivo. Com alianças espertas,
embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo
e, gozadores, repetiam: “façamos nós a revolução antes que o povo a
faça”. E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como
antes. Destarte, abortavam a emergência de outro sujeito histórico de
poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo moderno e menos
excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de
movimentos sociais de resistência e de autonomia. Esse poder social se
canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes
mundiais: um operário, sobrevivente da grande tribulação, representante
da cultura popular, um não educado academicamente na escola dos faraós,
chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade,
de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde
“a coisa pública”, o social, a vida lascada do povo ganhasse
centralidade. Na linha de Gandhi, Lula anunciou: “não vim para
administrar, vim para cuidar; empresa eu administro, um povo vivo e
sofrido eu cuido”. Linguagem inaudita e instauradora de um novo tempo
na política brasileira.
O “Fome Zero”, depois o “Bolsa Família”, o
“Crédito Consignado”, o “Luz para Todos”, o “Minha Casa, minha Vida, o
“Agricultura familiar, o “Prouni”, as “Escolas Profissionais”,
entre outras iniciativas sociais permitiram que a sociedade dos lascados
conhecesse o que nunca as elites econômico-financeiras lhes permitiram:
um salto de qualidade. Milhões passaram da miséria sofrida à pobreza
digna e laboriosa e da pobreza para a classe média. Toda sociedade se
mobilizou para melhor.

Mas essa derrota infligida às elites excludentes e anti-povo, deve ser
consolidada nesta eleição por uma vitória convincente para que se
configure um “não retorno definitivo”
e elas percam a vergonha de se
sentirem povo brasileiro assim como é e não como gostariam que fosse.
Terminou o longo amanhecer. Houve três olhares sobre o Brasil.
Primeiro, foi visto a partir da praia: os índios assistindo a invasão
de suas terras. Segundo, foi visto a partir das caravelas: os
portugueses “descobrindo/encobrindo” o Brasil. O terceiro, o Brasil
ousou ver-se a si mesmo e aí começou a invenção de uma república
mestiça étnica e culturalmente que hoje somos.
O Brasil enfrentou ainda
quatro duras invasões: a colonização que dizimou os indígenas e
introduziu a escravidão; a vinda dos povos novos, os emigrantes
europeus que substituíram índios e escravos; a industrialização
conservadora de substituição dos anos 30 do século passado mas que
criou um vigoroso mercado interno e, por fim, a globalização
econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores.
Face a esta história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer
dizer, enfrentou estas visões e intromissões, conseguindo dar a volta
por cima e aprender de suas desgraças. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do
candidato da oposição.
Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que
representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em
economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro A
construção interrompida (1993): “Trata-se de saber se temos um futuro
como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que
se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um
Estado-Nação” (p.35). Estas não podem prevalecer. Temos condições de
completar a construção do Brasil e as forças que realizarão o sonho de
Celso Furtado e o nosso.

[Autor de Depois de 500 anos: que Brasil queremos, Vozes (2000)].

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